Fly With Me

XX – Non-Linear Dynamics

Se todo lugar é idêntico, não posso perceber que estou andando. Se a luz em nada reflete, não posso enxergá-la. Nenhum de seus espectros.

Não havia espaço, não havia tempo. Até que esbarrei em algo.

Talvez fosse outra parede, quem sou eu para provar ou desaprovar universalmente que esbarrei em uma das paredes do universo…

Ao esbarrar aleatoriamente, perturbei um complexo sistema vazio que jazia em equilíbrio. Aliás, “simples” e “complexo” são conceitos demasiadamente próximos.

A segunda noção de “realidade” que tive foi sentir algo que pulsava dentro de mim. Como um tipo de rio quente, senti, próximo a isso, algo preencher por dentro de onde eu percebia tudo. Era um fluido quente que fluía conforme as pulsações que vinham de sei lá onde. De onde quer que fosse, era por dentro. Tomei essas pulsações para medir quantos pulsos conseguiria eu sentir a tal realidade.

Parecia, num dado momento, que tudo o que havia entre mim e as paredes tinha sido moldado segundo princípios aleatoriamente organizados para que eu pudesse contemplar tudo aquilo no momento certo. Vou chamar tudo isso que há entre mim e a parede de “Universo”. O Universo foi moldado para ser contemplado por algo que é regido por pulsos, e por pulsos consegue sempre lembrar que está vivo… O que quer que signifique esse conceito.

Também qualquer que seja esse relógio de pulso, ele funciona em constante desequilíbrio. Se houvesse o chamado equilíbrio, o fluido quente não precisaria correr de fora para dentro do relógio, eu não precisaria perceber que há algo entre mim e as paredes, não poderia sequer ter criado o conceito de Universo.

Não consigo recordar o exato momento em que esbarrei na parede; mas, por outro lado, consigo me lembrar claramente de tudo desde então. Como se a invariação temporal, num instante, tivesse sido quebrada feito uma taça de cristal deixada ao chão e pisada por descuido.

A diferença é que, ao esbarrar na parede, não havia com quem compartilhar a descoberta ou os cacos de cristal.

Também, desde que esbarrei na parede, veio-me uma idéia de que, enquanto eu pudesse andar por caminhos ligeiramente diferentes uns dos outros, haveria então uma possibilidade de infinitas realidades escondidas, distorcendo-se à minha frente, invisíveis, esperando cada decisão randômica.

Tudo parecia muito igual e houve a quebra de simetria. E eu me senti culpado, também. Mas sem a quebra de simetria, jamais perceberia isso tudo. Apesar de ter desconfigurado e ter deixado o sistema todo mergulhado em caos, por algum motivo não consigo imaginar como seria se o sistema permanecesse em equilíbrio.

Obviamente existem mensagens subliminares. Agora, por exemplo, eu posso escrever claramente que não fui o único responsável por quebrar a tal “matriz”. Também posso escrever que a sensação de que existe algo e que eu faço parte ativamente do sistema é a melhor que pode existir.

E nisso pode se fazer uma ponte intrigante: talvez outras das chamadas “dimensões” não possam ser vistas, ouvidas, cheiradas, lambidas ou tocadas. Talvez algumas delas só possam ser percebidas nesses sentidos quando são meramente projetadas. Por outro lado, isso não quer dizer necessariamente que não possamos experienciá-las em essência; só é tolice tentar alcançá-las enquanto presos em tudo o que estamos acostumados a ver.

Abraçar alguém às três da manhã, com frio, é uma projeção de algo que não pode ser explicado de acordo com o “real conveniente”. Mesmo sendo projeção, conseguimos sentir parte do calor que corre por dentro com o fluido, numa forma tão clara e compreensível quanto um quadro de Dali ou Picasso. Se olharmos bem de perto, também pode ser que o autor seja Monet.

Algo ainda me incomodava, no entanto. Sentia que estava, às vezes, como um inseto, rastejando, colado a alguma força que pisava sobre minha cabeça. Não era agradável. Um tempo desses, então, percebi que o que me cercava era mais denso.

Com alguma atitude que pareceu inata, subi algum pouco, contemplei, e voltei. Na segunda tentativa, realizei que eu podia voar!

Let me hold you inside this drawing,
As the snow rages outside the dirty window.
Let me hold you softly and warmly
Inside this place where nothing can harm us.

Let me awake you after midnight,
And show how time can melt by our hands.
Let me whisper to you something without sense,
Carried though by a river of meanings.

Sometimes the wall does not exist to deny us to see;
Sometimes it is misunderstood;
If there wasn’t any wall to stare,

Maybe we would be eternally lost,

Without a space to step.

I wish I could freeze the time,
But it would freeze our heartbeats, too.

So I walk on the edge,
‘cause I know there will be another snowy night,
Another chance to feel the warmth of being alive.
Fly with me.

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